Atualmente, a criatividade tem sido considerada uma das principais e mais importantes habilidades. O Fórum Econômico Mundial, no relatório “The Future Of Jobs” – https://www.weforum.org/reports/the-future-of-jobs-report-2020 – definiu as 15 principais habilidades valorizadas pelas empresas que estarão em alta no mercado de trabalho até 2025.
E a criatividade ocupa o quinto lugar. (1. Pensamento analítico e inovação; 2. Aprendizagem ativa e estratégias de aprendizado; 3. Resolução de problemas; 4. Pensamento crítico; 5. Criatividade).
O Center for Curriculum Redesign (CCR), órgão internacional e centro de pesquisas, entende a criatividade como parte integrante de uma ampla variedade de conhecimentos e habilidades, incluindo: pensamento científico, empreendedorismo, design thinking e matemática – https://curriculumredesign.org/wp-content/uploads/Educacao-em-quatro-dimensoes-Portuguese.pdf.
No entanto, apesar de tamanha relevância, eu passei a questionar se realmente praticamos a criatividade de forma plena, dentro dos espaços acadêmicos e profissionais e de acordo com as demandas atuais e futuras, depois que assisti ao premiado curta-metragem Alike – https://www.youtube.com/watch?v=kQjtK32mGJQ. É importante frisar que o curta já recebeu mais de 60 prêmios pelo mundo, incluindo o Prêmio Goya, e talvez a principal razão seja a abordagem sobre uma dor comum em todo o mundo. O curta aborda a forma como algumas instituições acadêmicas e profissionais podem acabar com a criatividade, a imaginação e a brincadeira, mediante uma rotina de afazeres, impondo rígidas regras. A partir desta questão, eu aprofundei uma pesquisa, na qual os principais resultados foram apresentados no WorldCreativityDay, um dos mais conceituados eventos sobre a criatividade. O estudo foi embasado, principalmente, no livro Design de Culturas Regenerativas, escrito por Daniel Christian Wahl. O autor coloca no centro a urgência do processo de transformação de culturas degenerativas e exploratórias, pertinentes às empresas com a mentalidade da narrativa da separação (medo), para as empresas com culturas regenerativas e fortalecedoras, alinhadas com a narrativa do Interser, que é um neologismo criado pelo mestre Thich Nhat Hanh, significando interdependência mútua de tudo (amor). E o vetor desta mudança é justamente feito pela criatividade, na busca por significado, brincadeira e a abundância colaborativa.
De um círculo vicioso para um círculo virtuoso
No entanto, para essa mudança acontecer dentro dos ambientes – do medo (narrativa da separação) para o amor (narrativa do Interser) é importante reconhecer, valorizar e integrar as múltiplas perspectivas, porque o mundo é muito complexo, para que apenas uma perspectiva represente toda a sua diversidade. E, por isso, a importância da nossa capacidade de integrar diferentes assuntos como os interesses ecológicos, sociais, e econômicos em soluções que são boas para as pessoas e para o planeta. Além disso, quando se implementa essa integração de múltiplas perspectivas, ajuda no sentido de tornar cada pessoa mais consciente das suas próprias interpretações e de como elas influenciam nas nossas práticas.
“Para alcançar um modo colaborativo de reconhecer, integrar e avaliar múltiplas perspectivas, precisamos nos mover para além da lógica dualista “ambos-ou”, que sugere que se duas perspectivas parecem contradizer uma a outra, uma delas precisa categoricamente estar errada para que a outra esteja certa.“
Fonte: Livro Design de Culturas Regenerativas (Daniel Christian Wahl)
O artigo “3 Common Fallacies About Creativity” – https://hbr.org/2021/11/3-common-fallacies-about-creativity -, conta que quando Steve Jobs assumiu a Pixar, identificou que as críticas excessivas estavam acabando com as ideias criativas. Então ele instituiu uma política, em que só se poderia oferecer uma crítica se incluísse uma solução potencial. Essa estratégia simples levou as pessoas de serem críticas a criadoras, mudando a dinâmica da equipe. E, como consequência, uma série de sucessos, começando com o desenvolvimento do filme Toy Story. Para o autor, os líderes podem melhorar a criatividade do grupo prestando muita atenção em como as ideias são discutidas, incentivando os membros da equipe a desenvolver as ideias uns dos outros, escutando as ideias com uma mente aberta para reconhecer aspectos úteis e melhorar os pontos fracos. Este trabalho requer um compromisso político claro e consistente, um estilo de liderança inclusivo, uma estrutura organizacional cuidadosa. Para o autor, os programas de criatividade são um imperativo urgente, pois são o caminho para o crescimento e colaboradores engajados.
No entanto, para se ter diferentes pontos de vista dentro de um lugar é preciso ampliar o “guarda-chuva” e entendimento sobre o que é a diversidade. Atualmente, a diversidade é formada pelas diferenças, como raça, religião, gênero, orientação sexual, idade, status socioeconômico, e incapacidade física. Porém, o relatório “Include All Voices in Your Workplace Culture” apresentado pela GALLUG – aponta que é fundamental englobar também as diferenças pessoais, tais como: estilos de vida, características de personalidade, composição familiar, diferenças em visões de mundo, perspetivas, opiniões e abordagens para a tomada de decisões.
É importante pontuar que a partir de agora a criatividade não é mais um diferencial, uma vez que é considerada uma das mais importantes habilidades até 2025. Por isso, eu trago esta reflexão acreditando na urgência deste processo da transformação, pela criatividade, na busca por significado, brincadeira e a abundância colaborativa, a partir das culturas regenerativas e fortalecedoras. Indo do medo para o amor, da crítica para a criação, retirando definitivamente a crença de que criatividade é algo nato, para poucas pessoas e por isso eu trago mais uma reflexão: Como a criatividade é fomentada e avaliada dentro do seu trabalho e vida pessoal?
*Fundadora da Poesis, uma consultoria dentro da economia criativa, DNA Corporativo e pesquisas etnográficas. Carreira multidisciplinar nas empresas Xerox do Brasil, Pizza Hut e Fininvest, como professora, palestrante e escritora no O Futuro das Coisas. Membro do Laboratório de Economia Criativa da ESPM. Publicitária com MBA Marketing COPPEAD, Pós em Pesquisa de Comportamento e Antropologia do Consumo Future Concept Lab (Milão) SENAI/CETIQT e Mestre em Gestão da Economia Criativa (ESPM).