A Importância das Qualidades de Caráter para o bem-estar coletivo

Artigo Publicado no Capitalismo Consciente: https://ccbrasil.cc/blog/a-importancia-das-qualidades-de-carater-para-o-bem-estar-coletivo/

A crença de que não existe interconexão e interdependência entre as pessoas, segmentos e assuntos e cada um cuida do seu próprio trabalho, olhando para o seu próprio umbigo e metas, não é mais aceitável. No cenário atual, formado por alta complexidade e total interdependência entre as pessoas e a natureza, é urgente a conscientização individual para que se possa alcançar o bem-estar coletivo. 

O livro Educação em Quatro Dimensões traz uma importante informação: “a interdependência humana é nosso ponto forte, mas também o nosso ponto fraco, e é exatamente onde a humanidade está perdendo”. Por isso, os nossos maiores problemas estão relacionados às práticas das pessoas, repercutindo em sérios problemas no meio ambiente, corrupção, terrorismo, desigualdade de renda, problemas sociais, entre outros. 

A pesquisa realizada pela Business and Industry Advisory Council (BIAC), para a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em 2015, aponta que para a conscientização das nossas práticas nos ambientes profissionais e pessoais, é necessário o desenvolvimento das Qualidades de Caráter, dentro dos espaços de educação e corporativo, com o objetivo de que as pessoas possam aprender e aprimorar suas virtudes (qualidades) e valores (crenças e ideais). 

Compreendendo as Qualidades de Caráter

O BIAC identificou as seis principais Qualidades de Caráter que, quando trabalhadas, aprimoram as habilidades de liderança, melhoram as capacidades de superar obstáculos, de manter uma postura ética, de ter novas ideias e de aumentar a motivação, dentre outros benefícios:

Ética – Aceitação das responsabilidades pelas consequências das ações. Ética pode se referir à humanidade, bondade, respeito, justiça, imparcialidade, tolerância, integridade, lealdade, honestidade e generosidade.

Liderança – Compreensão dos objetivos e informações transversais e conflitantes, em que o grupo é visto como mais importante do que a visão de um indivíduo.

Mindfulness – É a conscientização resultante de prestar atenção intencionalmente ao desdobramento das experiências, no presente momento e sem julgamento, momento a momento.

Curiosidade – Pode incluir ter uma mente aberta, análise, paixão, autocontrole, motivação, iniciativa e inovação. É a lacuna entre o que se sabe e o que se deseja aprender.

Coragem – Assumir riscos na confiança. É a habilidade de agir apesar do medo ou incerteza, em situações de risco ou quando nos sentimos vulneráveis.

Resiliência – Adaptação positiva em contextos de adversidades. Um dos elementos determinantes da resiliência é a determinação.

Qualidades de Caráter na prática

Uma boa prática significa que as atuações das marcas, corporações e pessoas precisam estar de acordo com o discurso e políticas internas, levando em consideração, também, os possíveis impactos de curto, médio e longo prazo, juntamente com as melhorias sociais. Esta cobrança vem das próprias pessoas que nos últimos anos passaram a ter fortes posturas em suas próprias escolhas, e exigem que as marcas façam o mesmo. 

De acordo com pesquisa “The Future 100; 2021”, realizada pela Wunderman Thompson em 2020, 40% dos consumidores são motivados por um propósito em suas compras, enquanto a Forbes ponderou que 2020 “foi o ano em que o ‘propósito’ se tornou popular”. Algumas organizações entenderam e mudaram as suas políticas, como Riccardo Bellini, CEO da casa de moda de luxo Chloé, que colocou o propósito no centro de relevância, criando duas contas de lucros e perdas sociais, estabelecendo um fundo dedicado à educação de meninas, e envolvendo empreendedores sociais em sua cadeia de suprimentos.   

“Em 2021, marcas que forem flagradas dizendo uma coisa e fazendo outra, enfrentarão crises mais ferozes do que nunca.”

Nandini Jammi, cofundadora Check My Ads

Deve-se considerar que a interdependência humana é nosso ponto forte, mas também nosso ponto fraco, e é exatamente onde estamos perdendo. Ainda não damos conta de questões antigas como, por exemplo, o plástico presente em inúmeros lugares. O livro Epidemia do Plástico faz uma importante reflexão sobre a conexão entre o consumo e o descarte de plásticos, e as respectivas consequências primeiramente no meio ambiente, indo até o segmento de saúde pública. A razão é que o plástico tem o material bisfenol A (BPA) e outros contaminantes capazes de contribuir com o aumento nos casos de obesidade, puberdade precoce e outros distúrbios hormonais, além de alguns tipos de câncer.  

Estes valores não estão restritos ao consumo e às escolhas de marcas. Em um ritmo recorde, 15 milhões de americanos pediram demissão desde abril de 2021. Segundo a pesquisa “Great Attrition or Great Attraction? The choice is yours”, realizada na Austrália, Canadá, Cingapura, Reino Unido e Estados Unidos, a principal razão deste movimento é que as pessoas buscam um senso de propósito e de pertencimento. Assim, buscam interações significativas (não necessariamente pessoais), mas que não sejam apenas transações. E por isso, preferem trabalhar para organizações que lideram as mudanças positivas, esperando também ter espaço e voz, para que possam fazer mudanças.

Qualidades de caráter, metaverso e propósito

Se ainda precisamos lidar com assuntos antigos como a desigualdade social e a fome, ao mesmo tempo surgem novos valores e inéditos questionamentos sobre o lugar corporativo, o propósito e atuações das marcas, privacidade dos dados, implicando em maior responsabilidade das pessoas e dos critérios utilizados nas suas decisões.  Exemplo disso é a decisão da empresa Xsolla de demitir 150 colaboradores categorizados como “improdutivos” e “pouco comprometidos”, seguindo a recomendação de um algoritmo criado de “eficiência”. E o metaverso, com a capacidade de unir pessoas, quebrando o protocolo do espaço e tempo. 

O relatório “New Trend Report: Into the metaverse” diz que o mais importante é que o metaverso virou prioridade para muitas empresas investidoras em tecnologias, trazendo uma presença social em que são criados mundos interconectados, onde o físico e o digital se encontram, permitindo que pessoas em diferentes locais físicos possam colaborar e trabalhar em tempo real no mesmo projeto, por meio de experiências holográficas em diferentes dispositivos.

“O metaverso é onde o seu persona físico e sua persona digital se tornam uma realidade unificada. O que acontece com um, afeta o outro e vice-versa.”

 Alexander Fernandez, CEO e fundador, Streamline Media Group

Diante de tantas mudanças, como serão as práticas das pessoas, em que o persona físico pode não ser o mesmo do digital? Que valor cultural será estabelecido, se a identidade do lugar que tanto diferencia o nordeste do sudeste, São Paulo de Toronto e o Canadá da África não existirá? Como as questões de pertencimento serão estabelecidas em um espaço virtual? E para aqueles, por exemplo, sem visão? Como ficará a privacidade se em uma realidade mista poderá ser gravado todos os momentos e perpetuado para sempre? E por último, se um algoritmo define o perfil de candidatos, como “ousar” criativamente saindo do padrão considerado “eficiente” pela corporação? 

São muitos os desafios pela frente e cada ação tomada repercute em novas questões, trazendo mais pressão sobre as pessoas responsáveis dentro das organizações. Para que a capacidade de se fazer escolhas seja mais inteligente e, assim, a vida mais equilibrada, eu trago a importância das seis qualidades de caráter” Ética, Liderança, Mindfulness, Curiosidade, Coragem e Resiliência que, quando trabalhadas, agem em prol do bem-estar coletivo, apoiando as pessoas na mudança dos valores do “é bom para mim” para o “é bom para todos”.    

*Fundadora da Poesis, uma consultoria dentro da economia criativa, DNA Corporativo e pesquisas etnográficas. Carreira multidisciplinar nas empresas Xerox do Brasil, Pizza Hut e Fininvest, como  professora, palestrante,  e escritora no O Futuro das Coisas.  Membro do Laboratório de Economia Criativa da ESPM. Publicitária com  MBA Marketing COPPEAD, Pós em Pesquisa de Comportamento e Antropologia do Consumo Future Concept Lab (Milão) SENAI/CETIQT e Mestre em Gestão da Economia Criativa (ESPM).

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